quinta-feira, 3 de março de 2016

As Ocupações da Izidora na Corte dos Direitos Humanos.

MLB na luta do MST no Sul de MG nas terras da Ariadnópolis: 600 famílias...

Libertai os presos do Presídio Regional de Nova Lima, prisão subterrânea, no porão de uma casa. por frei Gilvander. BH, 03/03/2016.

Libertai os presos do Presídio Regional de Nova Lima, prisão subterrânea, no porão de uma casa.
Frei Gilvander Moreira[1]

Na Campanha da Fraternidade de 2009, ouvimos o brado de Jesus de Nazaré: “Libertai os presos!” “Eu vim para libertar os presos” (Lucas 4,18), proclamou Jesus de Nazaré ao apresentar seu projeto de ação pública na pequena sinagoga de Nazaré.
 Como conselheiro do CONEDH (Conselho Estadual dos Direitos Humanos) e como assessor da CPT (Comissão Pastoral da terra), fiquei estarrecido ao saber que o Presídio Regional de Nova Lima está “torturando” 207 presos, tendo como capacidade máxima 97 presos, mas com capacidade excedida em mais de 113%. Fiquei feliz ao saber que a Defensoria Pública de Minas Gerais, área de Direitos Humanos, ingressou ação coletiva - Ação Civil Pública (ACP) - exigindo o fechamento do presídio. O juiz da 2ª vara cível da Comarca de Nova Lima ainda não julgou a ACP com pedido de liminar com antecipação de tutela para fechar o presídio. Eis, abaixo, um pouco da realidade violentadora dos direitos humanos dos 207 presos que estão lá sendo violentados segundo a segundo, fatos que constam da ACP.
O próprio Diretor do presídio Dr. Willer Cruz Brum de Oliveira, inscrito no Masp sob o n°.1.095.795-9, em 17.01.2016, atesta a situação insuportável gerada pela superlotação, aliada à falta de estrutura do presídio, que conta com apenas quatro agentes penitenciários para a vigia do local, bem como a interdição pela Defesa Civil do Estado de um cômodo do presídio, que era destinado ao setor administrativo do mesmo, são situações de flagrante violação das garantias e dos direitos dos custodiados, trazendo riscos não só aos presos, mas também aos funcionários do presídio e ao povo de Nova Lima, tendo em vista tratar-se de Unidade Prisional localizada no centro da cidade, meio subterrânea, diante das reiteradas e justificadas retaliações à superlotação, como greve de fome e frequentes ameaças de rebeliões e ou motins por parte dos presos.
A Defensoria Pública esteve no Presídio Regional de Nova Lima em várias visitas após o noticiado, relatando a demanda dos presos, funcionários, agentes e do próprio Diretor Geral, sendo certo que na visita conjunta com a Defensoria Pública de Direitos Humanos e o Conselho Penitenciário do Estado, com a presença de vários Conselheiros, dentre eles do Presidente Dr. Bruno César Gonçalves da Silva e do Defensor Público da Comarca Dr. Rafael Pedro Magagnin, realizada no dia 20/01/2016, foi constatado o flagrante desrespeito às garantias e aos direitos humanos dos presos custodiados na Unidade Prisional, que não tem nenhuma condição de abrigar sequer o número de presos dito como comportados pelo local, quanto mais o número excedente que contém.
O Presídio Regional de Nova Lima está sendo uma masmorra, um campo de concentração sem rótulo, é de absoluta ilegalidade a manutenção dos presos em uma Unidade Prisional que, por exemplo, tem o seguinte:
1- a falta de leitos, com casos de três presos dormindo no mesmo leito ou fazendo rodízio para dormir, quando dormem;
2- a falta de ventilação, havendo celas sem qualquer tipo de janelas ou ventanas, sendo que as que “possuem ventilação”, trata-se apenas de basculantes voltados para as áreas internas do próprio presídio, ou seja voltados para dentro do recinto fechado, sendo que os presos ficam pendurados nas paredes agarrados às grades destas aberturas, lá nas alturas, correndo o risco de cair e morrer;
3- a falta de local adequado para pátio de sol, posto que o que existe é uma área sem ventilação adequada, dentro da área interna do presídio, com telhado translucido para a passagem da luz solar;
4- a falta d’água diariamente enfrentadas pela comunidade da Unidade Prisional, posto que a caixa d’água não comporta a vazão diária, sendo necessário fechá-la para ligar bomba d’água para enchê-la, o que leva horas até que seja novamente aberto o registro para consumo d’água, cabendo dizer aqui que tal bomba d’água é extremamente barulhenta prejudicando a saúde de todos que estão dentro e até fora do presídio neste momento;
5- a falta de enxoval, roupa de cama, cobertores, lençóis, bem como uniformes e chinelos para todos os presos;
6- doenças respiratórias e de pele dentre outras, como sarna, sem falar dos presos doentes que não recebem medicação por não haver farmácia e médico que atenda o local;
7- a interdição de uma área pela Defesa Civil do Estado, que está em risco iminente de desabamento;
8- o fato de haver presos condenados não residentes na comarca, que deveriam estar cumprindo a sua pena em penitenciárias;
9- a existência de presos por tentativa de furto e ou crimes com penas semelhantes que aguardam mais de seis meses presos, por audiências marcadas para março e por fim a falta de higiene do local e da alimentação oferecida aos presos.
O Presídio Regional fica no Centro de Nova Lima-MG, sem estrutura alguma para ser sequer carceragem provisória, à época em que foi instalado, como carceragem da Polícia Civil do Estado, quanto mais hoje, como Unidade Prisional da SUAP, posto tratar-se de um porão de uma casa, que tem como frente à Delegacia da Polícia Civil e em seu porão abriga a Unidade Prisional.
A superlotação e a falta de cama obrigam os presos a fazerem rodízio para dormirem ou ainda, dormirem dois ou três presos na mesma cama, o que de fato é um absurdo.
Segundo os detentos o regime a que estão submetidos é insuportável, vivendo acautelados de forma claustrofóbica em celas pequenas, amontoados, dormindo vários em uma cama, não há colchões, nem roupa de cama suficiente para todos.Ainda no que tange ao enxoval, não há uniformes para troca, quando lavam as roupas ficam nus até que seque a roupa lavada, não há calçados para todos e tem preso sem chilenos, descalço no chão úmido.
Quanto à alimentação eles disseram que ela chega sempre fria e até teve casos dela estar com aspecto de estragada porque passou muito da hora de servir, com mau cheiro e aspecto estranho, não sendo ingerida pelos mesmos.
Há reclamação sobre a falta de atendimento médico. A Defensoria Pública presenciou vários casos de doenças causadas pela falta de ar dentro das celas, inclusive essa defensora, bem como todos que foram visitar o presídio não conseguiram ficar dentro sequer do hall de entrada para acesso às celas, quanto mais dentro das celas, sendo que na inspeção foi esvaziada uma delas, a primeira, a fim de que fossem feitas as averiguações necessárias, no entanto as autoridades não puderam permanecer por mais de dois minutos dentro das celas por absoluta incapacidade de respirar o ar dentro delas.
O art. 66, VIII, da Lei de Execução Penal concede ao Juiz da execução a prerrogativa de interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos daquela Lei. O juiz Dr. Livingsthon Machado libertou 26 presos em presídio de Contagem, MG, que estavam em situação semelhante aos 207 presos em Nova Lima.
Tudo escrito, acima, consta da ACP que exige o fechamento do presídio.
Entre os 600 mil presos no Brasil, cerca de 40% aguardam julgamento, enquanto os fazendeiros e empresários como Adriano Chafic (condenado a 115 anos como mandante do Massacre de 5 Sem Terra em Felisburgo, MG) e os 4 mandantes da Chacina dos fiscais em Unaí (Antero Mânica, Norberto Mânica, Hugo Pimenta e José Alberto, condenados a quase 100 anos de prisão) continuam livres sob a proteção de recursos intermináveis. Que injustiça! Milhares de presos sendo castigados, enquanto uns poucos privilegiados criminosos gozam de liberdade.
Vale a pena apostar na construção de uma sociedade com verdadeira segurança social, com paz como fruto da justiça (Is 32,17) e SEM PRISÕES. Ouçamos o clamor dos nossos irmãos e irmãs que estão detrás das grades! Libertai os presos, pelo menos do castigo permanente a que estão submetidos!
Peço a quem puder que ecoe o clamor dos 207 presos de Nova Lima, a cidade onde tem prisão que castiga 24 horas por dia seus presos?
Belo Horizonte, MG, Brasil, 03/03/2016.



[1]  Padre da Ordem dos carmelitas, doutorando em Educação pela FAE/UFMG, assessor da CPT, de CEBs e do SAB. www.freigilvander.blogspot.com.brgilvanderufmg@gmail.com

MST de MG não aceitará despejo na sede e nem nos escombros da ex-usina Ariadnópolis em Campo do Meio, Sul de Minas. Nota da CPT/MG. BH, 03/03/2016.

MST de MG não aceitará despejo na sede e nem nos escombros da ex-usina Ariadnópolis em Campo do Meio, Sul de Minas.

Nota da CPT/MG. Belo Horizonte, MG, 03/03/2016.

Dias 1 e 2 de março de 2016, um militante do MLB e eu, frei Gilvander, da CPT/MG, participamos da luta do MST no Sul de Minas Gerais, no município de Campo do Meio. No Sul de MG, o MST já conquistou 3 assentamentos: O P.A Primeiro do Sul e o P.A Nova Conquista II, no município de Campo do Meio, e o P.A Santo Dias, no município de Guapé. No latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, em cerca de 5 mil hectares, o MST está com 12 acampamentos com cerca de 600 famílias. Em 25/09/2015, o Governador Pimentel assinou decreto desapropriando grande parte da área da ex-usina Ariadnópolis, a Fazenda Gravatá em Novo Cruzeiro e a Fazenda Nova Alegria, em Felisburgo, repassando para cerca de 800 famílias do MST, que estão acampadas há 18 anos. Mas faltam ainda 864 hectares da ex-usina Ariadnópolis para ser desapropriada e 26 hectares da sede e a parte onde está a carcaça e os escombros da ex-usina Ariadnópolis. Pior: o Geovane, gerente da massa falida CAPIA, entrou com recurso no TJMG para derrubar o decreto de desapropriação do governador de MG. As centenas de famílias acampadas nas terras da Ariadnópolis estão muito indignadas com este questionamento do Geovane. Dia 11/10/2015, o MST, com cerca de 2 mil Sem Terra ocuparam a sede da ex-usina Ariadnópolis e a área do escombros da ex-usina da Ariadnópolis, formando, assim, o 12º acampamento nas terras da Ariadnópolis. Fomentando o gravíssimo conflito agrário nas terras da Ariadnópolis, um dos maiores conflitos agrários do país, que se arrasta há 18 anos, o juiz da Vara Agrária de MG, sem visitar a área, acreditando em mentiras do Geovane/CAPIA, deferiu liminar de reintegração de posse e um desembargador do TJMG confirmou a liminar. Está marcado para se tentar fazer o despejo dia 10 de março próximo, prazo concedido pelo juiz da Vara Agrária. Mas as 600 famílias do MST da Ariadnópolis e cento e poucas famílias dos 3 assentamentos da região e uma grande Rede de Apoio não aceitarão jamais o despejo do MST da sede da Ariadnópolis e nem da área dos escombros da ex-usina. Não dá mais para tolerar a violência que o latifúndio vem perpetrando nas terras da Ariadnópolis. Há mais de 100 trabalhadores assentados na Ariadnópolis que eram trabalhadores na Usina. Um nos disse que há 18 anos, quando o MST chegou na região, a dívida trabalhista dele era de 135 mil reais. Hoje deverá estar acima de 500 mil reais. São cerca de 500 trabalhadores violentados pela ex-usina Ariadnópolis sem receber suas dívidas trabalhistas. A massa falida da ex-usina Ariadnópolis devem milhões ao erário público e dívidas trabalhistas. A mansão da sede tem 5 andares, com elevador e luxo que não acaba mais. É um escárnio, uma indecência, uma imoralidade, uma mansão daquela no meio do povo Sem Terra que sua para se libertar da escravidão do capital. Em volta da mansão da sede há mais de 20 grandes casas, incluindo um grande castelo e casas históricas. O MST tem projeto para implantar na sede e nessas 20 grandes casas uma Escola estadual, um Centro de Formação Eduardo Galeano, que será uma “filial” da Escola Nacional Florestan Fernandes. O Instituto Federal de Machado, do Sul de MG, já tem parceria com o MST e quer colocar lá também cursos em várias áreas técnicas.

Dia 01/03/2015, em reunião, in loco, com representantes do Governo de MG (casa civil, sec. do Planejamento e AGE) e com 4 comandantes da PM, lideranças do MST e representantes da Rede de Apoio deixaram claro que não aceitarão o despejo marcado para dia 10/03/2016, que caso a PM tente fazer o despejo, poderá acontecer um grande massacre, pois as 600 famílias da Ariadnópolis já sofreram 12 despejos, já foram muito humilhadas pelo Geovane e Rose, gerentes da massa falida. E não abrem mão de instalar na sede e nas 20 casas grandes ao redor uma Escola Estadual e um Centro de Formação Eduardo Galeano. Se o juiz da Vara Agrária tivesse ido visitar e tivesse visto o luxo e a ostentação da mansão e os escombros da ex-usina, provavelmente não teria concedido a liminar de reintegração, que é injusta e inconstitucional. Despejar o MST da sede e dos escombros da ex-usina Ariadnópolis é premiar mais uma vez o latifúndio, a corrupção, a especulação em cima do sequestro da terra, é impedir a instalação de uma necessária Escola estadual e de um grande Centro de Formação Eduardo Galeano. Os Sem Terra e o MST toleraram 18 anos sem ocupar a sede da ex-usina e a área dos escombros da ex-usina Ariadnópolis, mas dia 11/10/2015 ocuparam para não sair mais. Esperamos que o Governo de MG, o TJMG e o alto comando da PM tenham a sensatez de não tentar despejar essa nova ocupação e que desaproprie inclusive a sede da ex-usina Ariadnópolis e a área dos escombros da ex-usina Ariadnópolis. Isso será justiça agrária tardia. Isso é o justo que deve prevalecer.

Obs.: Veja, abaixo, algumas fotografias la luta digna e justa dos Sem Terra do MST lá nas terras da ex-usina Ariadnópolis. Fotos de 01/03/2016, de Gilvander Moreira.