sábado, 5 de setembro de 2015

ITABIRA: A OCA NA ECO/92 Pelo 1º bispo de Itabira, MG: Dom Marcos Noronha.


ITABIRA: A OCA NA ECO/92
Pelo 1º bispo de Itabira, MG: Dom Marcos Noronha.

         Itabira assistiu, passivamente, à saída de sua riqueza rolando pelas encostas do Cauê, Esmeril e Conceição.
         Itabira viu, silenciosamente, o fino cobrir suas várzeas e ilhou-se nas represas.
         Itabira assistiu, pacificamente, à desfiguração de suas serras, à eliminação de sua vegetação natural e à intromissão de um reflorestamento alienígena.
         Itabira presenciou, lentamente, à agonia de seus mananciais. O ar de Itabira misturou-se ao pó de sua riqueza.
         Itabira cresceu e também cresceram os problemas sociais.
         A cidade há muito se alimentando das dívidas do minério de ferro, percebe que um dia ele morrerá. A enganosa prosperidade dos primeiros tempos cede a um movimento que a miséria toma a seu cargo e acelera.
         Triste contradição: o potencial de recursos existentes, a euforia do crescimento acelerado, mas sem diminuir o estado de pobreza da maioria da população.
         Itabira é hoje, nesta reunião internacional, a Oca na Eco/92! E traz para a reunião o ruído das pás, das britadeiras, dos caminhões e da dinamite de 10h e 30 min. A dinamite arrebenta um pedaço do chão e um pedaço da gente! Ninguém se acostumou, ainda, com o tremor das paredes e o grito silencioso da terra.
         Como será a economia de Itabira, quando cessarem todos esses ruídos? COMO SERÁ A EDUCAÇÃO?  E a saúde? Como a cidade sobreviverá? Será tudo comércio? Que será feito do solo? Como serão curadas as feridas? Que se colocará em lugar daquilo que os vagões levam? Como será a paisagem de amanhã, sem a formigagem eletrônica dos trens que descem a serra, no carregamento estudado e planejado para a pressa? Sai de Itabira, a cada dia em minutos, um pedaço feito na rolagem paciente de séculos. Algo está errado nessa urgência!
         Itabira, por todas essas marcas, é o lugar privilegiado para uma sistematizada terapia de recuperação. A ECO/92 pode colocar aqui uma ESCOLA NACIONAL DE ENGENHARIA DE RECUPERAÇÃO DO SOLO, uma ESCOLA NACIONAL DE ECOLOGIA, dentro de Engenharia Sanitária, Geologia de Minas.
         Itabira, Centenária, hoje avalia a sua realidade. Através dos tempos, a relação Homem X Natureza ocorreu pelo processo social de produção. A mudança no eixo da economia – passando nesse período agro-pastoril à exploração inicial do ouro para uma indústria centrada na extração – resultou na migração do campo para a cidade. Assim, da indústria extrativa do ferro à atual necessidade de diversificação econômica, gradativamente, o homem foi se desvinculando da natureza.
         A Indústria Extrativa iniciou suas atividades em Itabira há mais de 50 anos, retirando de seu solo acima de 1 (.000.000.000) bilhão de toneladas de minério de ferro, proporcionando ao país divisas superiores a 20 bilhões de dólares.
         Como consequência, o ambiente do Município passa por gradativas agressões e alterações, comprometendo o ecossistema local, como também a qualidade de vida da população.
         A reabilitação da terra agredida não conduzirá por si mesma à recuperação da identidade do homem de Itabira. Itabira quer recolher os frutos que guardamos de um final de outono, sanzonados da terra-ferro, irrigados com o suor e lágrimas de todos aqueles que arriscam seu futuro.
         Queremos o estado da sobrevivência, só. Queremos que o Cauê seja amanhã uma antena de pesquisa nacional, uma captação de mundo. Queremos Itabira ligada lá longe, na distância criada pelos vagões emendados pela pressa de extrair!
         A cidade inteira será então uma escola, uma escola no chão e não apenas no nome e no livro. Uma escola ensinando o país a lidar com o fogo e o vento, a água e a árvore, pois cativar é mais do que domesticar.
         É o ABC de ecologia, o aprendizado do alfabeto no chão, com infinitas possibilidades que o chão tem para a subsistência do ser vivo.
        
Esta escola não virá, é claro, em lugar da única escola de nível superior existente na cidade. Ela virá para somar e multiplicar, assim:
                   - economia na cidade mineradora
                   - economia de sobrevivência na cidade mineradora
                   - uso criativo do solo na cidade mineradora
                   - saúde na cidade mineradora
                   - EDUCAÇÃO NA CIDADE MINERADORA
        
Queremos uma escola de aprendizado da natureza, o resto virá daí.    
Queremos que Itabira seja, na reunião internacional, o óikos, a concha imensa acolhedora, o lugar de nascimento de novas criações, a cidade educativa da relação homem x animal, cidade educativa para a docência de comportamento coletivo e não de elitismo.
Cidade para todos e não para alguns, cidade para o 1º, o 2º  e o 3º graus, docência de todos os modos de o homem viver no chão, FACULDADE TECNOLÓGICA inovadora, cura e conserto do chão e das almas.
É este o grito de Itabira: o grito pelo vazio deixado pelo ouro e o ferro. Sabemos que só a educação poderá reverter este quadro. Queremos que nossa mensagem seja ouvida pelo mundo todo: Itabira quer uma FACULDADE TECNOLÓGICA ORIENTADA PARA A ECOLOGIA.

Conferência de dom Marcos Antônio Noronha, em Itabira, no ano de 1.992, ano em que aconteceu a ECO no Rio de Janeiro.
Itabira – pedra dura, hoje pedra Oca – na Eco logia.




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